sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

No Recife, aliados de oposição 'isolam' o PSDB

Blog Magno Martins


O PSDB vive uma situação inusitada na cidade do Recife. O partido foi isolado por tradicionais aliados de oposição justamente na capital do Estado do seu presidente nacional, o deputado Sérgio Guerra.

Guerra lançou à disputa pela prefeitura de Recife o deputado estadual Daniel Coelho. Egresso do PV, filiou-se ao PSDB com o compromisso de representar a legenda na eleição municipal de 2012.

Escolhido o nome, Guerra foi buscar o apoio dos velhos aliados: DEM e PPS. Esperava contar também com o PMDB do senador Jarbas Vasconcelos, um dissidente do consórcio governista. Deu errado.

Os três núcleos que Guerra via como potenciais parceiros tentam pavimentar trilhas próprias. De antemão firmaram um entendimento não escrito: no primeiro turno, não cogitam unir-se ao PSDB.
Partindo dessa premissa, DEM, PPS e o PMDB de Jarbas gastam saliva para chegar a um nome comum. Algo que, por enquanto, não se materializou. Estima-se um desfecho para março.

Munido de pesquisas, o DEM reivindica a cabeça de chapa para o deputado federal Mendonça Filho. Entre os oposicionistas, é o mais bem posto nas sondagens, com pouco mais de 20%.

 O problema é que os interlocutores de Mendonça não o enxergam como favorito. Ao contrário, recordam que ele vem de duas derrotas, em 2006 e 2008.


Na primeira, perdeu o governo do Estado para Eduardo Campos (PSB). Na segunda, foi batido no município pelo atual prefeito do Recife, João da Costa, agora candidato à reeleição.

Convencidos de que os índices de Mendonça representam um teto, não um piso, PPS e PMDB já o descartam como alternativa. Se o DEM bater o pé, arrisca-se a ficar falando sozinho.

Restam outros dois postulantes: o ex-deputado Raul Jungmann, pelo PPS; e o deputado Raul Henry, pelo PMDB. O primeiro Raul traz as mangas arregaçadas. O segundo hesita em mergulhar na refrega.

Em privado, Jarbas Vasconcelos mostra-se propenso a apoiar um dos dois. Se Henry evoluir da hesitação para o entusiasmo, algo tido por improvável, terá o apoio do senador pemedebê.

 Do contrário, Jarbas tende a transferir o prestígio que ainda tem e o tempo de tevê do seu PMDB para o Raul do PPS. Nessa hipótese, Jungmann iria à sorte das urnas com uma boa vitrine eletrônica.


Já acertado com o minúsculo PMN, o candidato do PPS dispõe, hoje, de menos de dois minutos. Com o PMDB, passaria a usufruir de algo como seis minutos para vender seu peixe no rádio e na tevê.

A vitamina da propaganda não garante a vitória. Mas pode evitar o vexame. Resta saber se Henry, o Raul do PMDB, vai abadonar a raia. Se ficar, Jarbas espera que Jungmann abra mão de disputar.

Em qualquer cenário, a oposição subirá ao ringue do Recife trincada. Na melhor hipótese, terá dois candidatos – Daniel, do PSDB, e um Raul. Na pior hipótese, o DEM bancará Mendonça. E serão três.

 Tudo isso numa praça em que o principal ator político é um antagonista, Eduardo Campos, que governa o Estado com índices de aprovação que passam dos 80%.


O projeto de Eduardo está enganchado no do PT, à frente da prefeitura de Recife por três mandatos. O governador tende a apoiar os planos reeleitorais do petista João da Costa.

Jarbas Vasconcelos e Cia. não chegam a se descabelar com a divisão da infantaria oposicionista. Acham que, no limite, a pluralidade de candidaturas ajuda a empurrar a disputa para o segundo turno.

Imagina-se que a oposição vai se reaglutinar em torno do nome que for capaz de levar para esse eventual segundo round contra o PT. A reunificação viria mesmo que prevalecesse o neotucano Daniel Coelho.

DEM, PPS e o PMDB que segue Jarbas não torcem o nariz para o candidato do PSDB, mas para o patrono dele. Sérgio Guerra tornou-se alvo de uma indisposição generalizada.

Deve-se o fenômeno à percepção de que Guerra trafega em dois ambientes. No térreo, tenta seduzir os ex-parceiros automáticos da oposição. No porão, tricota com o governista Eduardo Campos, um velho amigo.

Desenha-se no Recife um cenário que pode se repetir na seara nacional em 2014. Incomodados com a divisão do PSDB federal, DEM e PPS procuram alternativas que os livrem da ‘tucanodependência’.

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