Apesar das críticas, ex-presidente afasta qualquer possibilidade de assumir lugar de sucessora na campanha
Na Folha de São Paulo
Em público, elogios apaixonados. Reservadamente, críticas ao estilo de governar de sua sucessora e uma certeza: a presidente Dilma precisa mudar em 2015 num eventual segundo mandato no Palácio do Planalto.
Esta tem sido a tônica das conversas do ex-presidente Lula nas últimas semanas com interlocutores do mundo político e empresarial, que intensificaram seus encontros com o petista para se queixar da presidente.
Apesar das críticas, em todas as conversas Lula diz ter confiança de que Dilma será reeleita e afasta qualquer possibilidade de assumir o lugar de sua ex-ministra na campanha.
O petista avalia que Dilma tem conquistas para garantir o segundo mandato, principalmente nas áreas do emprego e social, mas está convencido de que a presidente tem de fazer ajustes na economia e na área política.
De posse de pesquisas internas, que indicam que 80% dos entrevistados acreditam na vitória de Dilma nas eleições deste ano, a equipe de Lula avalia que a presidente “está bem na foto” com o eleitorado, mas “divorciada” das classes política e empresarial.
A médio prazo, este divórcio poderia travar a economia e colocar em risco conquistas obtidas na área social no país.
Nas conversas com empresários e políticos nas duas últimas semanas, Lula tem dito que a atual equipe econômica está com o prazo de “validade vencido” e que a presidente terá de escalar não só um novo time na área como também fazer correções na sua política econômica para fazer o país voltar a crescer com taxas na casa dos 4%.
Em segundo lugar, Lula diz que Dilma precisa aprender a vender o Brasil no exterior e melhorar a interlocução com o empresariado brasileiro, que também elevou o tom das reclamações contra o que consideram um estilo intervencionista da presidente.
Lula e empresários concordam que a petista está deixando para 2015 uma elevada conta na área econômica, com preços represados artificialmente, o que exigirá sacrifícios no ano que vem.
Na área política, o ex-presidente avalia que sua sucessora precisa criar um novo “núcleo duro” para gerenciar o governo e administrar as pendências com sua base aliada no Congresso, que já ensaia uma rebelião.
Um interlocutor de Lula diz que ele está totalmente envolvido na campanha de reeleição de Dilma e faz questão de deixar claro que não tem nenhuma intenção de sair candidato no lugar da presidente, algo que empresários têm sugerido recorrentemente nos últimos encontros. “Ele nem deixa a conversa prosperar”, afirma um auxiliar.
ERROS
Políticos também reforçam o coro do “Volta, Lula”. Um amigo próximo do ex-presidente relata que, há alguns meses, Lula confidenciou que não havia a possibilidade de se colocar como candidato pois significaria admitir “o fracasso” de sua sucessora. “E ele não acha que ela fracassou, acha que tem prós e contras, mas não fracasso.”
Lula reconhece que sua sucessora cometeu erros, mas acredita que ela já faz uma autocrítica em algumas áreas e tende a mudar sua forma de governar em 2015.
O ex-presidente cita como exemplo as regras das concessões ao setor privado de rodovias e aeroportos.
Depois de adotar uma linha intervencionista, diz Lula, Dilma fez correções, ainda que tenha demorado para começar a fazê-las. Depois disso, o programa começou a andar.
Na avaliação da equipe de Lula, Dilma centraliza demais e delega pouco.
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