Miguel Arraes gostava de dizer que, antes de disputar um cargo eletivo, o interessado deveria se fazer a seguinte pergunta: “Quero ser eleito por quê e para quê?”. Domingo passado, em magistral artigo publicado em vários jornais do país, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso defendeu uma tese exatamente igual. Ele disse que as oposições têm o desejo, legítimo, de ganhar as eleições para presidente da República em 2014, “mas para quê?”. Isso, a seu ver, é o que precisa ser dito à população.
O argumento de alguns tucanos, afirma FHC, de que é difícil fazer oposição, hoje, porque a maioria do povo brasileiro está satisfeito com o desempenho da economia tem lá suas razões, mas não explica tudo. Porque durante a época do “milagre econômico”, na ditadura militar do general Garrastazu Médici, acrescenta, “a oposição não podia esperar, a não ser censura, cadeia ou tortura”, mas nem por isso se calou. “Colheu derrotas eleitorais e políticas, resistiu até que, noutra conjuntura, venceu”.
Hoje, diz ainda o ex-presidente, a situação é “mais fácil e confortável” para se fazer oposição, mas falta aos atuais partidos o que antes sobrava no MDB: a “chama de um ideal”. Porque José Serra em 2010, mesmo tendo obtido 44 milhões de votos, teve dificuldades para fazer alianças e não soube expressar com muita clareza suas convicções. E, quanto ao senador Aécio Neves, o provável candidato de 2014, pergunta FHC: “Transmitirá uma mensagem que salte os muros do Congresso e chegue às ruas?”
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